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06 dezembro 2013

Náuseas de uma mente agitada - "Náusea"

Labirinto perdido na primavera austral, desnorteia-se de leste a oeste: é a náusea que se apresenta - ventral e ancestral - junto à dor... Precipício és tu, ó Náusea, que me afaga com amor e me golpeia elétrica e mortal, do vago à alma!

11 fevereiro 2013

Farol

Quando na escuridão mais profunda
o pescador avança mar adentro
somente a alma escuta
de
longe
os gritos da solidão sem estremecer
o mastro da esperança e do amor
fincado antes da aurora
em seu coração...

21 agosto 2012

Delírio Emocional de 3º grau: O seco João Bobo de memórias molhadas.

Parte II - Lise monocromática

Das várias tentativas de dominar outros mundos pelas costas, Lise foi a mais sombria. Algo sobre anos de estudante, aviso logo. Tempos de colégio me lembram das mesas, outras crianças, risos e algum idiota resmungando concepções de coisa nenhuma a ouvidos estuprados. Inclusive os meus. A diferença era que eu não gostava nada disso. Mariazinhas pintavam as unhas de carência afetiva, Pedrinhos exibiam tênis como impérios da vaidade decadente. Eu observava do aquário encostado na parede do lado esquerdo, ao fundo da sala zero. Manhãs sem número no Colégio para Filhos de Ricos Frescos da Santa Merda. Os pais? Macabravam violentamente seus filhos-marionetes-empreendimentos bem sucedidos. Aquele teatro das novas tendências do melhor dos mundos hipotéticos em que você quer inserir a sua cria lambida asquerosamente. Sobre toda aquela náusea, que contaminava os azulejos acinzentados, respingava a sua delicadeza. Lise e sua farda igual a todas e tão estupenda. Não havia transpiração, cheiro do salgado da cantina fétida ou de desbotamentos por exaustivas lavagens. Era elegante. Como a origem do seu nome. Francês. Neerlandês. Alemão. Que seja. Sentava do lado direito da sala, na cadeira mais próxima da lousa branca. Distância segura o suficiente para eu observá-la. Apaixonar-me. Ela riscava com canetas de bico fino, atentamente a cada sugestão indecifrável de professor qualquer. O nariz se contorcia em dúvidas, enquanto os olhos se espremiam para checar que nada tinha passado batido por seu estudo voraz.
Cada gesto dela bloqueava minha audição, Mr. Jack. A molecada esbanjava sua panaquice no volume da indiferença. Sequências de abismos cercavam meus olhos, que só queriam olhar para a direita. Adiante. No intervalo, continuava fixo. Hora de respirar o ar frio da cadeira vazia. Por alguns momentos conseguia dissolver algumas situações de casa. Mas eram poucos. Lise era o foco. Lise era a fonte. Lise não me dava espaço para aulas, rezas, padres, santos de barro que quebram com a primeira traquinagem de uma criança levada. Ela sim, era imaculada. Rasgava todos os momentos irrelevantes em detrimento de apenas um. Eterno. Sentar e observar o meu amor, minha namorada à distância. Sem contato. Tato.
Não lembro muito bem que ano era aquele. Mas era de maldição. Os outros alunos não direcionavam atenções a mim em nenhum momento. Muito menos gostaria que fizessem isso. Assim me tornei invisível. No esconderijo perfeito para sempre poder observa-la. Até que Lise deixou a escola. Minha sala. Os abismos. O áudio me atingiu, estridente.
Hoje minhas lembranças captam a redenção sobre Lise incolor. Porque toda a paixão silenciada torna-se vulto. Seus cabelos, passadas décadas, agora são brancos e sombrios. Os olhos cinzas, moribundos. Brilhos ofuscados para a anti-libertação. Dor de sentir toda a cor que um dia te encantou lançada sobre os braços de um quadro monocromático.

28 abril 2012

Baal de vestido em terras estrangeiras

A todos os cães que ladram entorpecidos pelo mistério que habita o outro lado do portão - olhos brilhantes como lambedores de lágrimas dos outros - vitoriosos pela graça débil de estátuas ocas - roendo ossadas do santuário vazio - onde sandálias arrastam o barro culpado pelos pecados mal lavados - os pecadores abanam o rabo do lado opaco do portão de ferro - grunhindo desespero em frames de devoção - toda honra das salivas do egoísmo expelidas ao Baal de vestido que habita as terras de personagens banais - carnívoros mortais mascando os últimos instantes de grama verde - porque o fim do mundo é a última visão inocente - e que se desfaz ao cair a primeira dama de gesso aos pés das fantasias sacras

Sem sentidos

Um passado remoto surge às pressas de um mundo novo. Noites brilhantes, dias obscuros. Delírios. Livros queimados, máquinas endeusadas, objetos amados, pessoas usadas. Tudo sucumbe ao capitalismo desvairado e moderadamente viciante. Não, não estou louco. Tudo isso não passa de palavras aleatórias de uma mente não brilhante. Uma mente cansada do trânsito, dos transeuntes, das transes "in-situ". O mundo gira, tudo passa, sentimentos vão e voltam, à flor das emoções da alma... Relatos de um corpo que possui um coração de pedra... delírios de um ex-poeta marginalizado pelo correr do tempo e endurecido pela vida.

19 abril 2012

Quando as pautas solitárias amanhecem

Armando todo conceito para o dia de fúria blindado pelas pontas metálicas das esferográficas. Que falham e não te deixam escrever como você gostaria em um fim de noite que sufoca aos ventos. A redação do jornal está vazia e oca, sem delimitadores de zanzados e respingos ásperos de desconcentração. Nós de veludos silenciadores amaciantes do céu lunar brilham nas últimas horas do expediente antes da brisa da manhã imperiosamente glorificar o novo Sol.

Minhas narinas expiram o sangue gasoso dos motores que ardem pelas estradas mal faladas por aí e bem vistas por aqui. Preciso pisar em salinas para aliviar o grito das baixas pressões ameaçadoras que só quer te consumir, arrebatar, transformar em pó. Resíduo inequívoco de últimas chances para o mal nesta linha de pensamento que salta que dança que esmurra que acha que vende que abusa que estipula que não quer que sim que não quer que mate os mortos que ainda andam por aí contando desgraça nas portas sem família, órfãs que sentam à janela em poses semideusas e chamam de gatinhos os leopardos assassinos da savana petrificada.

E este é apenas o início da última cena.

O ar-condicionado gela intrepidamente o ambiente. Todos os outros jornalistas já foram às suas casas, descansar longe da carga horária desumana e árdua a qual são submetidos. Muda-se o clima, até pouco tempo cheio do barulho ensurdecedor, macacadas célebres e a orquestra dos telefones que sempre estão afinados no tom da conversa tecnicamente formal do profissionalismo engessado e acostumado das poses comunicativas teóricas e previsíveis.

Me pego só no Vale das palavras enfermas. As repartições das editorias se fecham sem guardiões para mantê-las intocáveis. O falso clima de paz é instaurado.
Olho para os lados e nenhum colega está ao meu lado ou a raios de distância do grande salão prata, repleto de máquinas. A iluminação fraca e o brilho das máquinas hibernando são os olhos que vigiam meu comportamento ao varar da noite de um Plantão insone de víboras que correm pela Internet e procuram o bote em seu pescoço caso você durma. A concorrência também está sedenta por pautas e você não quer deixá-la com o sabor dos primeiros goles.

Hospital. Comparação mais próxima que se pode envolver a redação de um jornal. Daí se explica os horários loucos, as mulheres que reclamam por seus maridos não chegarem aos lares, crianças que dormem no parapeito da janela esperando o rugir do motor do carro que as afaga os corações e fazem brilhar seus olhos por tratar-se da única salvação prevista para a noite que visita em sublime harmonia com ouvidos, olhos e córrego de pulsante ânsia patriarcal.

Leitos hospitalares não param por um segundo, pois precisam da mão de obra que salva a respiração de muitos. Respiração, não vidas. Muitas já se foram esvaindo, esvaindo. Depressões. Esvaindo. E assim como os hospitais, o habitat jornalístico precisa de pautas que respirem mesmo com personagens mortos em palavra, peito e ordem natural e sobrenatural e inversa ao meio ético da criação. Ligações para a polícia revelam brutalidades que ocorrem durante os horários mais improváveis ao engano, desespero e sofrimento.

Acidentes, estupros, assassinatos. Pais que matam os filhos e admiram o sangue em suas mãos. Sangue que cega sem deixar sentir a medida certa da qualidade visual. Onde o que importa é o valor da moralidade estética trágica, nada cômica, crônica, modernosa como tempos de um blade runner cyber punk convertido pela TV e pelos noticiários encharcados e salgados por lágrimas, álcool, glóbulos que boiam entre olhos. Olhos sangrentos de quem mata olhos sangrentos petrificados de quem morre olhos sangrentos marejados e ansiosos de quem escreve pelo prazer do furo nas entranhas do outro alguém que se importa.

Repórteres ligam para noticiar a última odisseia do dia, os ossos, carne morta e bocas arregaladas que cercam o cotidiano verossímil ao inferno que queima as bordas da sua estrada e você apenas espera chegarem ao centro para então ser consumido em enxofre e ter a garganta selada velada sufocada no sofrimento da vida que se deforma ao teclar de caracteres surrealistas que constroem o quadro das visões celestes e julgadoras do pós-morte diário.

De cabeça cheia, dores em meu corpo e a satisfação de mais um dia vivo em meio aos bombardeios secos que não estouram ao meu lado, nem perto, a distâncias. Mas sempre sangram pelas pontas dos meus dedos. Desligo minha máquina, pego meu bloquinho, minha caneta e o que mais me pertence. Olho para a noite recém-clareada e vejo o que pode ser daí pra frente. Muitas pautas morreram sem serem ao menos tocadas. Amanhecem solitárias, à espera do milagre de uma reportagem para remissão do pecador que não as fez tinta e papel à beira das mudanças dos turnos.

Reapresentação. Cena um.

08 dezembro 2011

Quatro anos e a náusea sob custódia

Desde o segundo aniversário dos Vampiros Anêmicos, tomei o posto de "aquele cara que faz o discurso no meio da festa chata pra cacete" da Raíssa. Assim, nas postagens do dia 8 de dezembro, em 2009 e 2010, expressei em resumo aquilo que este blog significa para quem aqui (raramente)escreve.

Não nos importa o número de acessos nem as tags mais bonitas e chamativas que o Google possa achar. Apenas queremos guardar os nossos retratos aqui. Os momentos de indecisões, as elucubrações e chutadas de balde. Desde 2007, vomitamos nossas ideias, fruto de náusea natural. E será sempre assim.

Devido a ocupações, este certamente foi nosso ano menos produtivo. Não paramos de escrever, claro. Somente não produzimos aquilo que o Vampiros Anêmicos sempre acolheu. Nada é forçado, tudo simplesmente surge no estalo e a sujeira, bem, vemos depois de clicar no "Publicar Postagem", sem caminho de volta.

São quatro anos sem cobranças. E sem vergonha na cara também, admito. Mas sem nenhuma espécie de cobrança. Não temos regras, não temos fórmulas. Só queremos escrever o que escorre pelas pontas dos dedos. No bloquinho, notebook, celular, seja onde for, o que for, quando for.

As experimentações, os rancores e a liberdade não combinam com o dedo na goela. Mesmo que postemos duas vezes no ano, até fragmentos de duas linhas, o vômito sempre estará fresco. E a crosta daquilo que ficou nunca será lavada.

03 agosto 2011

Loja de doces {Sail On}

perdido nos passos para achar descompassos - dissecando luas cheias de branco cálido - calado pelo sol perdido na primeira estação da morte do espírito - sem pena de voltar ao início inédito do que nunca em verdade se foi - delicio ordens com o desprezo - volto à origem pelo apego - sinto falta por nascer em esquecimentos amargos - elevando elefantes brandos elétricos tramitados na vergonha alheia dos meus olhos diabéticos - injetam o doce mais azedo da maldição em harmonias desafinadas - paladar que assenta dormência - cansado de acumular cáries e dolos

31 julho 2011

A noiva (por Juliana Weyne)

Salete, mulher de quarenta e poucos anos, celibatária e temente a Deus, numa bela manhã de domingo, ajudava nos preparativos finais para o casamento da sua sobrinha Dora que aconteceria naquele dia em algumas poucas horas.


Ao distrair-se um segundo, esbarrou acidentalmente em um majestoso arranjo de flores que foi ao chão deixando várias tulipas espalhadas pelo tapete vermelho no qual a noiva caminharia mais tarde com seus pés de pomba. Salete, acanhada, apressou-se em recolher as vítimas de seu descuido e arrumá-las o mais discretamente possível.


Com algumas tulipas em seus braços e ao seu redor, a boa Salete num estalo, como que em transe, levantou-se e saiu da igreja levando consigo algumas das flores caídas e colhendo as que encontrava nas ruas por onde passava.


Chegando numa praça e já carregada de flores de diversas cores, formas e tamanhos, Salete deparou-se com um grupo de turistas italianos que jogavam milho para os pombos que lá viviam. Ainda mergulhada em seu delírio, a pura Salete, ao ver aquele milho pipocando no ar tomou-os por grãos de arroz e deixou-se ser banhada por ele.


Os pombos da praça voaram para a estátua da noiva de milho e flores urbanas, e, depois deles, mais e mais pombos surgiam até que já não se podia distinguir parte alguma da pobre Salete.


Os pombos, por fim saciados, partiram, mas ali já não havia da noiva algum vestígio.

16 julho 2011

A Hora do Remédio: A Loucura e a Incredulidade

Todos os dias deveria rezar. Mas eu não rezo. Sou um louco delirante que grita, chora e ri descontroladamente. Eu estava amordaçado, com uma camisa de força e monstros de roupas e sapatos brancos que diziam ser meus cuidadores.

Na verdade eles dizem que eu sou louco. Mas eu não sou louco. EU NÃO SOU LOUCO! NÃO SOU LOUCO! Eu vejo vultos passarem na minha frente, atormentarem minha mente e sofrerem veementemente.

O que importa é a hora do remédio. Tudo vira luz, paz. Eu apago, mas quando acordo tudo volta ao normal. Eu fico sabendo do que vai acontecer, o que vai acontecer! Vozes, vozes. Elas me dizem tudo!

Eu não sou louco. Tudo que eu vejo é oniricamente real. Certo dia, um tal de André Luiz veio me dizer para eu ter forças e paciência. Ele dizia ser um médico, mas todos do hospital dizem que não há nenhum médico com esse nome.

Pois é, eu vivo rondando entre o real e o imaginário, dizem os doutores. Mas lembro... lembro-me bem que um senhor já de certa idade e cabelos brancos cochichando aos ouvidos de minha mamãe que eu deveria me dedicar à luz e servir ao Senhor, mas minha santa mãezinha, diante toda sua ignorância interiorana, disse que essas coisas que eu via eram coisas do diabo. Ela me levou à igreja, mas com toda ignorância eclesiástica disseram que não tinha jeito. Lágrimas. E assim me internaram neste lugar horrível, cheio de alienados, drogados sob receita e mortos por essência.

(15/07/2011)