Featured Posts
06 dezembro 2013
Náuseas de uma mente agitada - "Náusea"
11 fevereiro 2013
Farol
Quando na escuridão mais profunda
o pescador avança mar adentro
somente a alma escuta
de
longe
os gritos da solidão sem estremecer
o mastro da esperança e do amor
fincado antes da aurora
em seu coração...
21 agosto 2012
Delírio Emocional de 3º grau: O seco João Bobo de memórias molhadas.
28 abril 2012
Baal de vestido em terras estrangeiras
Sem sentidos
19 abril 2012
Quando as pautas solitárias amanhecem
Minhas narinas expiram o sangue gasoso dos motores que ardem pelas estradas mal faladas por aí e bem vistas por aqui. Preciso pisar em salinas para aliviar o grito das baixas pressões ameaçadoras que só quer te consumir, arrebatar, transformar em pó. Resíduo inequívoco de últimas chances para o mal nesta linha de pensamento que salta que dança que esmurra que acha que vende que abusa que estipula que não quer que sim que não quer que mate os mortos que ainda andam por aí contando desgraça nas portas sem família, órfãs que sentam à janela em poses semideusas e chamam de gatinhos os leopardos assassinos da savana petrificada.
E este é apenas o início da última cena.
O ar-condicionado gela intrepidamente o ambiente. Todos os outros jornalistas já foram às suas casas, descansar longe da carga horária desumana e árdua a qual são submetidos. Muda-se o clima, até pouco tempo cheio do barulho ensurdecedor, macacadas célebres e a orquestra dos telefones que sempre estão afinados no tom da conversa tecnicamente formal do profissionalismo engessado e acostumado das poses comunicativas teóricas e previsíveis.
Me pego só no Vale das palavras enfermas. As repartições das editorias se fecham sem guardiões para mantê-las intocáveis. O falso clima de paz é instaurado.
Olho para os lados e nenhum colega está ao meu lado ou a raios de distância do grande salão prata, repleto de máquinas. A iluminação fraca e o brilho das máquinas hibernando são os olhos que vigiam meu comportamento ao varar da noite de um Plantão insone de víboras que correm pela Internet e procuram o bote em seu pescoço caso você durma. A concorrência também está sedenta por pautas e você não quer deixá-la com o sabor dos primeiros goles.
Hospital. Comparação mais próxima que se pode envolver a redação de um jornal. Daí se explica os horários loucos, as mulheres que reclamam por seus maridos não chegarem aos lares, crianças que dormem no parapeito da janela esperando o rugir do motor do carro que as afaga os corações e fazem brilhar seus olhos por tratar-se da única salvação prevista para a noite que visita em sublime harmonia com ouvidos, olhos e córrego de pulsante ânsia patriarcal.
Leitos hospitalares não param por um segundo, pois precisam da mão de obra que salva a respiração de muitos. Respiração, não vidas. Muitas já se foram esvaindo, esvaindo. Depressões. Esvaindo. E assim como os hospitais, o habitat jornalístico precisa de pautas que respirem mesmo com personagens mortos em palavra, peito e ordem natural e sobrenatural e inversa ao meio ético da criação. Ligações para a polícia revelam brutalidades que ocorrem durante os horários mais improváveis ao engano, desespero e sofrimento.
Acidentes, estupros, assassinatos. Pais que matam os filhos e admiram o sangue em suas mãos. Sangue que cega sem deixar sentir a medida certa da qualidade visual. Onde o que importa é o valor da moralidade estética trágica, nada cômica, crônica, modernosa como tempos de um blade runner cyber punk convertido pela TV e pelos noticiários encharcados e salgados por lágrimas, álcool, glóbulos que boiam entre olhos. Olhos sangrentos de quem mata olhos sangrentos petrificados de quem morre olhos sangrentos marejados e ansiosos de quem escreve pelo prazer do furo nas entranhas do outro alguém que se importa.
Repórteres ligam para noticiar a última odisseia do dia, os ossos, carne morta e bocas arregaladas que cercam o cotidiano verossímil ao inferno que queima as bordas da sua estrada e você apenas espera chegarem ao centro para então ser consumido em enxofre e ter a garganta selada velada sufocada no sofrimento da vida que se deforma ao teclar de caracteres surrealistas que constroem o quadro das visões celestes e julgadoras do pós-morte diário.
De cabeça cheia, dores em meu corpo e a satisfação de mais um dia vivo em meio aos bombardeios secos que não estouram ao meu lado, nem perto, a distâncias. Mas sempre sangram pelas pontas dos meus dedos. Desligo minha máquina, pego meu bloquinho, minha caneta e o que mais me pertence. Olho para a noite recém-clareada e vejo o que pode ser daí pra frente. Muitas pautas morreram sem serem ao menos tocadas. Amanhecem solitárias, à espera do milagre de uma reportagem para remissão do pecador que não as fez tinta e papel à beira das mudanças dos turnos.
Reapresentação. Cena um.
08 dezembro 2011
Quatro anos e a náusea sob custódia
Não nos importa o número de acessos nem as tags mais bonitas e chamativas que o Google possa achar. Apenas queremos guardar os nossos retratos aqui. Os momentos de indecisões, as elucubrações e chutadas de balde. Desde 2007, vomitamos nossas ideias, fruto de náusea natural. E será sempre assim.
Devido a ocupações, este certamente foi nosso ano menos produtivo. Não paramos de escrever, claro. Somente não produzimos aquilo que o Vampiros Anêmicos sempre acolheu. Nada é forçado, tudo simplesmente surge no estalo e a sujeira, bem, vemos depois de clicar no "Publicar Postagem", sem caminho de volta.
São quatro anos sem cobranças. E sem vergonha na cara também, admito. Mas sem nenhuma espécie de cobrança. Não temos regras, não temos fórmulas. Só queremos escrever o que escorre pelas pontas dos dedos. No bloquinho, notebook, celular, seja onde for, o que for, quando for.
As experimentações, os rancores e a liberdade não combinam com o dedo na goela. Mesmo que postemos duas vezes no ano, até fragmentos de duas linhas, o vômito sempre estará fresco. E a crosta daquilo que ficou nunca será lavada.
03 agosto 2011
Loja de doces {Sail On}
31 julho 2011
A noiva (por Juliana Weyne)
Salete, mulher de quarenta e poucos anos, celibatária e temente a Deus, numa bela manhã de domingo, ajudava nos preparativos finais para o casamento da sua sobrinha Dora que aconteceria naquele dia em algumas poucas horas.
Ao distrair-se um segundo, esbarrou acidentalmente em um majestoso arranjo de flores que foi ao chão deixando várias tulipas espalhadas pelo tapete vermelho no qual a noiva caminharia mais tarde com seus pés de pomba. Salete, acanhada, apressou-se em recolher as vítimas de seu descuido e arrumá-las o mais discretamente possível.
Com algumas tulipas em seus braços e ao seu redor, a boa Salete num estalo, como que em transe, levantou-se e saiu da igreja levando consigo algumas das flores caídas e colhendo as que encontrava nas ruas por onde passava.
Chegando numa praça e já carregada de flores de diversas cores, formas e tamanhos, Salete deparou-se com um grupo de turistas italianos que jogavam milho para os pombos que lá viviam. Ainda mergulhada em seu delírio, a pura Salete, ao ver aquele milho pipocando no ar tomou-os por grãos de arroz e deixou-se ser banhada por ele.
Os pombos da praça voaram para a estátua da noiva de milho e flores urbanas, e, depois deles, mais e mais pombos surgiam até que já não se podia distinguir parte alguma da pobre Salete.
Os pombos, por fim saciados, partiram, mas ali já não havia da noiva algum vestígio.